Mulherzinha.com
Para todas as meninas que se identificam com essas histórias. Para todos os meninos curiosos sobre as manias femininas. Para os desinformados que acreditam que mulheres são anjinhos infantis e intocáveis. Para os machistas e para as feministas me odiarem. E, finalmente, para que eu não me sinta uma louca cheia de manias estranhas e encontre parceiras nas maluquices.


segunda-feira, outubro 28, 2002  

Complexo de Sininho e Complexo de Wendy

Outro dia eu estava na praia, tomando água de coco e pegando um bronze. Não tinha nada pra fazer e simplesmente adorava isso; inclusive estava me perguntando por quê não tinha nascido milionária. Era uma pergunta sem resposta. Virei para meu companheiro de praia, sentado na cadeira ao lado, e declarei: “Sabe de uma coisa, acho que sofro de um enorme Complexo de Peter Pan.” Ele respondeu que Complexo de Peter Pan era só pra homem, que nesse caso eu teria que sofrer de Complexo de Sininho. Eu disso: “Então, que seja de Sininho. O negócio é que eu não quero crescer.”

Meu amigo perguntou por quê. Ele, como representante legítimo do Complexo de Peter Pan – nós andamos em grupo – estava querendo saber se eu tinha características suficientes para ser uma complexada. “Muito simples, posso dar a você uma lista”, eu disse. Ele me desafiou com um: então comece. E nós, eternas crianças, saímos do controle quando somos desafiadas.

Pra começar, eu tenho 25 anos e ainda moro com os meus pais. Tudo bem, em parte isso é culpa da realidade sócio-econômica do nosso país, que faz com que seja muito mais difícil para os jovens brasileiros adquirirem seu cantinho de liberdade do que é na Europa, por exemplo. Mas existe uma outra coisa por baixo disso... Existe a comodidade. Uma das principais características dos que querem viver na Terra do Nunca.

Outra coisa: saio para o mesmo tipo de bar e boate desde que eu tenho 16 anos. Juro. Hoje confesso que fico um pouco deprimida quando vou a uma festa e ouço as mesmas músicas que tocavam na Basement, inferninho carioca que inaugurou a minha boemia. Já se passaram 6 anos, caramba, e o povo ainda está ouvindo isso? Depois eu penso: “que se dane” e fico cantando Candy, do Iggy Pop, no meio da pista.

Terceiro ítem: não tenho nenhuma maturidade para relacionamentos sérios. Toda vez que arrumo um namorado que dura mais de seis meses, a cena se repete: ciúmes, possessão, etc etc. Quando alguém me diz namora há oito anos, eu acho que a pessoa é um ser iluminado. Porque eu imagino que relacionamentos longos devem significar entendimento mútuo e amadurecimento – ou seja, incompatíveis comigo. E aí está a minha quarta característica infantil: acreditar que homens e mulheres podem se entender e se respeitar.

O ponto definitivo para a conclusão de que realmente eu sofro de Complexo de Sininho é a atração irresistível por homens com Complexo de Peter Pan. Tão complicadinhos. Com medo de tudo. Tão extremamente freaudianos e édipos, procurando a mãe na figura feminina de cada esquina...

Não sou só eu que gosto de homens assim. Elas também gostam. Elas, as mulheres- absolutas. As que são centradas e têm jeito de mãe. As que exibem sempre conselhos sensatos para horas de desespero. As Complexo de Wendy!

Conheço poucas assim – elas não se misturam com tipos como eu. Mas sei que existem. Elas andam com segurança e fazem mais dinheiro do que eu farei aos 30. Geralmente elas têm cabelos lisos. Tudo em suas vidas é centrado e pesado e discutido com a boa e a má consciência. A única situação que escapa do controle dessas mulheres é o amor pelos Peter Pans.

Esses homens que nunca crescem despertam a mãe que mora dentro das Wendys. Elas já eram loucas pra soltar esse lado há muito tempo e de repente – voilá – têm a oportunidade perfeita nos Peter Pans. Esse casal se completa. Ying e Yang. Positivo e Negativo. Quando se encontram, são felizes para sempre.

Peraí, e as Sininhos? Bom, as Sininhos não são seres humanos. Elas podem ficar sozinhas (e amaldiçoar até a morte a oponente Wendy). Aliás, ninguém nunca sabe quando uma Sininho está triste ou alegre. Porque, nos dois casos, ela passa glitter nos olhos e sai pra dançar. Geralmente a mesma música que tocava há seis anos na Basement.

posted by Unknown | 1:33 PM


sexta-feira, outubro 25, 2002  

De como o meu corpo está cada vez mais parecido com o da minha mãe

Meu avô, do alto da sua sabedoria, costumava dizer a meu pai: "Se quer saber como a sua mulher vai ficar quando envelhecer, olhe para a mãe dela." Essa é a única verdade do mundo. Nós, meninas, precisamos nos acostumar com a idéia de que vamos, um dia, ficar com cara de mães. E, pior do que isso, com barriga e quadril avantajados.

Isso me preocupa. Eu sempre fui mais para magra do que gorda; mas há uns dois anos venho me desentendendo com a balança. Quanto mais malho na academia, mais o peso me engana. "É a massa muscular", dirão aquelas vozes boazinhas de dentro da minha cabeça. Mas eu não acredito nelas, porque as calças estão ficando apertadas e eu já não posso mais usar as mesmas roupas que vestia aos 20 anos.

Tudo começou com uma saia que eu não experimentava há um tempo. Fui colocar e - tchanan - o terror de todas as mulheres do mundo finalmente tinha se abatido sobre a minha pessoa: o bumbum grande. Pior que não era bem a minha bunda que tinha crescido, mas o meu quadril. Lembrei da minha mãe, da minha avó materna e da minha tia. Todas, que horror, cadeirudas. E eu, que sempre reclamei de falta de curvas, agora ganhava duas: acentuadas para a esquerda e para a direita. Que tristeza.

Lembro que a minha mãe era magrinha antes de engravidar. Depois que eu e a minha irmã invadimos sua praia, ela só se recuperou com uma super lipo e uma plástica de redução de seios. Engraçado, porque acho que hoje em dia os médicos desaprenderam a diminuir os peitos; não deve ter nenhuma paciente almejando seios mais discretos. Anyway, eu posso me ver com 40 aninhos sentada na maca, pronta para ser vítima do bisturi.

O lance todo é que só agora eu tenho a impressão de que o tempo está realmente passando. Eu não estou preparada pra isso, não mesmo. Sofro de Complexo de Sininho, ainda não visitei os Lençóis Maranhenses, nem comecei a fazer minhas aulas de mergulho. Eu não estou preparada psicologicamente pra ter o corpo da minha mãe. Mas, como em todas as outras coisas que aconteceram na minha vida, eu vou ter que engolir. Mas vou engolir com mate e limão de garrafão da praia, ok - e não estou nem aí se dá celulite ou não, contanto que continue uma delícia.

posted by Unknown | 11:55 AM


quarta-feira, outubro 23, 2002  

O Melhor Amigo Gay

Toda mulher nos anos 00 tem que ter um melhor amigo gay. É uma lei. Essa tendência já estava ganhando força no final dos anos 90, mas foi impulsionada por Julia Roberts no filme "O Casamento do Meu Melhor Amigo". E hoje a gente tem Will & Grace na tv, só pra lembrar o tempo todo que, apesar de os heteros serem mais úteis, os gays são muito mais divertidos.

Eu, é claro, tenho um melhor amigo gay. E ele é um amigo gay especial, porque eu acompanhei todo o seu processo de sair do armário. Lembro que na 8a. série, quando estudávamos juntos, ele era chamado de mulherzinha pelos outros garotos. Mas só lá pelos 18 anos meu amigo resolveu assumir a sua homossexualidade - encarando toda a família de frente e segurando a barra bem bonito, como tem que ser.

Uma vez a gente saiu junto e viu um menino bonito. Eu e meu amigo gay não sabíamos se o menino era hetero ou não, e passamos a noite inteira observando as maneiras do outro, pra ver se alguma delas delatava sua opção sexual. Não descobrimos. A gente, então, mandou um torpedo pro menino assim: "Eu e meu amigo estamos observando você há um tempo. Se você quiser falar com ele, ligue para ..... Se você quiser falar comigo, ligue para... Se você não quiser falar com nenhum dos dois, que pena." Pedimos pro garçon entregar o bilhete na outra mesa e saímos correndo, com vergonha. O garoto em questão não ligou nem pra mim nem pra ele. Não sabe o que perdeu...

Um amigo gay é bem vindo porque pode conversar com a gente como mulher e ainda assim ter uma opinião masculina. Eles dão dicas maravilhosas de sexo, admiram os meninos na praia junto conosco e sabem ter toda a paciência do mundo na hora de nos acompanhar nas compras. Às vezes os amigos gays são tão perfeitos que a gente fica se perguntando se deveria ter um filho com eles - pra ver se a nossa prole herda todo esse bom gosto por moda, cinema e arte em geral.

Mas é preciso ter cuidado com os amigos gays bonitos. Se não a gente pode acabar se apaixonando e entrando numas de mudar o time do cara. Eu já fiquei muito frustrada de saber que certos meninos eram gays. Mas nunca me apaixonei por nenhum, graças a Deus. Conheço garotas que se apaixonaram e ficaram deprês quando a biba mandou a real: "Olha, se eu gostasse de mulher, com certeza eu ficaria com você". Que coisa; melhor ouvir isso que ser surdo.

Eu não vejo o meu amigo gay há um tempão (não vejo ninguém há um tempão; ando hibernando). Morro de saudades de ir ao cinema com ele e depois ficar horas falando da fotografia do filme. Sem ser chato nem pedante, porque ele não tem a mínima intenção de parecer culto pra mim. E depois de falar da fotografia a gente vai comentar sobre os músculos do ator principal. Tão importantes quanto o resto do filme, é claro.

posted by Unknown | 9:16 AM


terça-feira, outubro 22, 2002  

Pedindo dinheiro emprestado para seu pai

1. Você checa a sua conta bancária e descobre que não tem como passar o resto do mês, de acordo com os cheques que ainda vão cair, daquela sua viagem ao Nordeste.

2. Você vê que ainda faltam dez dias para acabar o mês. Você então divide o que sobrou na sua conta pelo número de dias e descobre que você pode gastar R$2 até o dia 30.

3. Desesperada, você dá o braço a torcer e liga para o seu pai. Quando o encontra, você está alegre e sorridente e dá um beijo na bochecha dele. Ele não entende nada, porque há cerca de 7 anos não vê uma demonstração de carinho semelhante.

4. Você decide não fazer rodeios - afinal de contas, ele é seu pai, a pessoa que mais tem intimidade com você no mundo depois da sua mãe - e pede a quantia necessária. Ele se ajeita na cadeira e diz que não vai emprestar todo aquele dinheiro. A partir daí começa uma negociação digna de comerciantes de Marrakesh.

5. Seu pai começa a fazer um discurso sobre seu estilo de vida, suas falta de responsabilidade e suas atitudes inconseqüentes. Você se defende argumentando que não pede dinehiro para ele há mais ou menos dez anos, e ele joga na sua cara que acabou de pagar o conserto do carro. Sem respostas, você manda: "Mas eu pensei que aquilo fosse meu presente de aniversário."

6. A mulher do seu pai chega o local para engrossar o time dele. Você acha muita desvantagem discutir contra dois ao mesmo tempo e diz que não quer mais dinheiro nenhum. seu pai, num acesso de maldade de meninos de 12 anos, diz: "Problema seu." Você se desespera.

7. Finalmente você pega o dinheiro - menos do que havia pedido - e sai de lá, chorando. Vai abastecer o carro. Vai pagar R$30 que está devendo pra amiga. Combina uma noitada.

8. Você relaxa no Baixo Gávea enquanto pensa que no mês que vem tem que comprar aquela saia maravilhosa da coleção nova da Zoomp. Você percebe, então, que não tirou nenhum lição de hoje. E então, você sorri e pede mais uma gim-tônica.

posted by Unknown | 8:25 AM


quinta-feira, outubro 17, 2002  

O elemento catalisador

Elemento catalisador é aquele que retarda ou acelera uma ação química. Pois eu descobri que sou um catalisador do tipo que acelera processos. Não comigo, é claro. Com os outros. Acontece que todos os meninos com quem eu saí esse ano - eu disse todos - começaram a namorar logo depois de terem ficado comigo. Eu saía com o cara, no dia seguinte ele me ligava naquele follow up básico, depois desaparecia. Eu não entendia nada e ficava com a impressão de que sou um ser à parte da sociedade, que não consegue nem compreender o comportamento dos seus semelhantes. Semanas depois eu encontrava o cara acompanhado de alguma patricinha de cabelos lisos, e então eu reclamava que tinha muito azar no amor e me enchia de pena de mim mesma.

A primeira vez que agi como catalisador foi com um ex namorado. A gente namorou apenas dois meses, e na maior parte das vezes que ficamos juntos o que ele fazia era reclamar da ex e enfatizar o quanto ele não queria mais um relacionamento como o seu antigo. Bastava eu fazer uma queixinha de nada pra ele mandar: "Você é assim? Pára com isso, você está me lembrando a minha falecida." Dava certo, porque imediatamente eu me calava, constrangida por estar me comportando com esse monstro do passado dele.

Depois a gente terminou. Quer dizer, ele terminou comigo. Nos falamos por telefone algumas vezes, mas estava muito claro que nada mais ia rolar. O bicho pegou de verdade quando eu fui à uma festa e o encontrei acompanhado.
Da ex from hell.

Não é necessário dizer que o meu ego ficou machucadíssimo.

Depois dessa experiência traumática, fiquei um tempão sem fazer o papel de agente unificador. Mas esse ano a vida tratou de tirar o atraso, e eu estava prestes a acreditar que o meu papel no mundo era mesmo unir as pessoas, quando uma amiga me disse que aquilo já tinha acontecido com ela. Só que, no caso dela, a história tinha sido pior. O cara ficou com essa minha amiga só para provocar ciúmes em uma menina, que hoje é namorada dele. Sucker.

Mas, vá lá, não posso ser injusta. Quem nunca quis provocar ciúmes em outra pessoa que atire a primeira pedra. Eu mesma fiz isso, e foi essa semana. Puxei um amigo meu pelo braço e ordenei: "Finja que você está muito interessado em mim." O meu amigo fez carinho no meu cabelo, segurou a minha mão, sorriu melosamente pra mim. Mas não adiantou nada (só pra ele mandar aquelas piadinhas básicas do tipo "se vc quiser que eu te beije é só falar, não é problema nenhum pra mim", etc). O alvo dos meus ciúmes provocados não estava nem aí para esses ataques, já que ele está saindo com uma menina e pelo visto anda amarradão. Bastou eu me ausentar por 15 dias que ele já encontrou o amor da vida dele. É incrível! Mas fazer o quê, né. A vida de elemento catalisador é assim mesmo. Chega pra lá que o meu arco e flecha ocupam muito espaço.

posted by Unknown | 3:19 PM


quarta-feira, outubro 16, 2002  

Cheguei, a rainha das mulherzinhas girlies do Rio de Janeiro. Isso aqui é só pra postar qualquer bobagem, mas amanhã teremos bons textos de verdade. See you tomorrow.

posted by Unknown | 3:25 PM
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